terça-feira, 17 de abril de 2012

A Policia indefesa

Luis Felipe Pondé, para a folha de São Paulo.


A POLÍCIA é uma das classes que sofrem maior injustiça por parte da sociedade. Lançamos sobre ela a suspeita de ser um parente próximo dos bandidos. Isso é tão errado quanto julgar negros inferiores pela cor ou gays doentes pela sua orientação sexual.
Não, não estou negando todo tipo de mazela que afeta a polícia nem fazendo apologia da repressão como pensará o caro inteligentinho de plantão. Aliás, proponho que hoje ele vá brincar no parque, leve preferivelmente um livro do fanático Foucault para a caixa de areia.
Partilho do mal-estar típico quando na presença de policiais devido ao monopólio legítimo da violência que eles possuem. Um sentimento de opressão marca nossa relação com a polícia. Mas aqui devemos ir além do senso comum.
Acompanhamos a agonia da Bahia e sua greve da Polícia Militar, que corre o risco de se alastrar por outros Estados. Sem dúvida, o governador da Bahia tem razão ao dizer que a liderança do movimento se excedeu. A polícia não pode agir dessa forma (fazer reféns, fechar o centro administrativo).
A lei diz que a PM é serviço público militar e, por isso, não pode fazer greve. O que está corretíssimo. Mas não vejo ninguém da "inteligência" ou dos setores organizados da sociedade civil se perguntar por que se reclama tanto dos maus salários dos professores (o que também é verdade) e não se reclama da mesma forma veemente dos maus salários da polícia. É como se tacitamente considerássemos a polícia menos "cidadã" do que nós outros.
Quando tem algum problema como esse da greve na Bahia, fala-se "mas o problema é que a polícia ganha mal", mas não vejo nenhum movimento de "repúdio" ao descaso com o qual se trata a classe policial entre nós. Sempre tem alguém para defender drogados, bandidos e invasores da terra alheia, mas não aparece ninguém (nem os artistas da Bahia tampouco) para defender a polícia dos maus-tratos que recebe da sociedade.
A polícia é uma função tão nobre quanto médico e professor. Policial tem mulher, marido, filho, adoece como você e eu. Não há sociedade civilizada sem a polícia. Ela guarda o sono, mantém a liberdade, assegura a Justiça dentro da lei, sustenta a democracia. Ignorante é todo aquele que pensa que a polícia seja inimiga da democracia. Na realidade, ela pode ser mais amiga da democracia do que muita gente que diz amar a democracia, mas adora uma quebradeira e uma violência demagógica.
Sei bem que os inteligentinhos que não foram brincar no parque (são uns desobedientes) vão dizer que estou fazendo uma imagem idealizada da polícia.
Não estou. Estou apenas dando uma explicação da função social da polícia na manutenção da democracia e da civilização. Pena que as ciências humanas não se ocupem da polícia como objeto do "bem". Pelo contrário, reafirmam a ignorância e o preconceito que temos contra os policiais relacionando-a apenas com "aparelhos repressivos" e não com "aparelhos constitutivos" do convívio civilizado socialmente sustentável. Há sim corrupção, mas a corrupção, além de ser um dado da natureza humana, é também fruto dos maus salários e do descaso social com relação à polícia, além da proximidade física e psicológica com o crime. Se a polícia se corrompe (privatiza sua função de manutenção da ordem via "caixinhas") e professores, não, não é porque professores são incorruptíveis, mas simplesmente porque o "produto" que a polícia entrega para a sociedade é mais concretamente e imediatamente urgente do que a educação. Com isso não estou dizendo que a educação, minha área primeira de atuação, não seja urgente, mas a falta dela demora mais a ser sentida do que a da polícia, daí "paga-se caixinha para o policial", do contrário roubam sua padaria, sua loja, sua casa, sua escola, seu filho, sua mulher, sua vida. Qual o "produto" da polícia? De novo: liberdade dentro da lei, segurança, a possibilidade de você andar na rua, trabalhar, ir ao cinema, jantar fora, dormir, não ser morto, viver em democracia, enfim, a civilização. Defendem-se drogado, bandido, criminoso. É hora de cuidarmos da nossa polícia.

terça-feira, 10 de abril de 2012

JUIZO FINAL

Benedito Godoy Paiva

Sentado o Padre eterno em trono refulgente,
Olhar severo envia a toda aquela gente!

Enquanto uns anjos cantam, outros vão levando
Ante a figura austera desse Venerando
As almas que da tumba emigram assustadas,
Vendo o tribunal solene, majestoso,
Em que vão ser julgadas.

Dois grupos são formados,
Um de cada lado:
O da direita, Céu; o da esquerda, Averno.
E Satanás, ao canto, o chifre fumegante,
Espera impaciente, impávido, arrogante,
A “turma” para o inferno.

Aconchegando o filho, a alma bem-amada,
E que na terra fora algo desassisada,
Uma mulher se chega e a sua prece faz,
Rogando ao Padre Eterno:
Poupe do inferno o pobre rapaz.

Cofia o Padre Eterno a longa barba branca
E o óculo ajustando à ponta do nariz,
O olhar dirige então à pobre desgraçada
E compassado diz:

- Os anjos vão levar-te agora ao Paraíso
E dar-te a recompensa, o teu descanso eterno.
Ali desfrutarás felicidades mil,
Porém, teu filho mau irá para o inferno.

Um anjo toma o moço e o leva a Satanás,
Porém a pobre mãe ao ver partir o filho,
Aflita, corre atrás!

E ao incorporar-se ela às hostes infernais,
Eis grita o Padre Eterno em tom assustador:
- Mulher para onde vais?

E o que passou-se, então,
Ninguém esquece mais:

- Eu vou para o inferno, ao lado do meu filho,
A repartir comigo a sua desventura!
As lágrimas de mãe, as gotas do meu pranto,
Acalmarão no Averno a sua queimadura!


Eu deixo para ti esse teu céu,
Essa mansão celeste onde o amor é surdo!
Onde se goza a vida a contemplar tormento,
Onde a palavra amor represa um absurdo!

Entregar esse teu Céu às mães malvadas, vis,
Que os filhos já mataram para os não criar,
Pois só essas megeras poderão, no Céu,
Ouvir gritar seus filhos sem consternar!

Desprezo esse teu Céu! O meu amor é grande,
Imenso, assaz, sublime. E posso te afirmar,
Que se o não te comove o pranto lá do inferno,
E os que no Averno estão são todos filhos teus,
O meu amor excede o próprio amor de Deus!

E ante o estupefato olhar do Padre Eterno,
a Mãe beijou o filho, e foi para o inferno.

A LUZ ACIMA DO ALQUEIRE

Por: Josnei Castilho

A história da humanidade é repleta de relatos de pessoas que vieram ao mundo para modificar conceitos e contribuir para a evolução da humanidade. Uma dessas pessoas extraordinárias foi o emérito professor Hippolyte Léon Denizard Rivail. Nascido numa antiga família de orientação católica com tradição na magistratura e na advocacia, desde cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da filosofia. Fez os seus estudos na Escola de Pestalozzi, no Castelo de Zahringenem, em Yverdon-les-Bains, na Suíça (país protestante), tornando-se um dos seus mais distintos discípulos e ativo propagador de seu método, que tão grande influência teve na reforma do ensino na França e na Alemanha. Aos quatorze anos de idade já ensinava aos seus colegas menos adiantados, criando cursos gratuitos para os mesmos. Aos dezoito, bacharelou-se em Ciências e Letras. Concluídos os seus estudos, o jovem Rivail retornou ao seu país natal. Profundo conhecedor da língua alemã, traduzia para este idioma diferentes obras de educação e de moral, com destaque para as obras de François Fénelon, pelas quais manifestava particular atração. Conhecia a fundo os idiomas francês, alemão, inglês e holandês, além de dominar perfeitamente os idiomas italiano e espanhol. Era membro de diversas sociedades, entre as quais da Academia Real de Arras, que, em concurso promovido em 1831, premiou-lhe uma memória com o tema "Qual o sistema de estudos mais de harmonia com as necessidades da época?". A 6 de fevereiro de 1832 desposou Amélie Gabrielle Boudet. Em 1824, retornou a Paris e publicou um plano para aperfeiçoamento do ensino público. Após o ano de 1834, passou a lecionar, publicando diversas obras sobre educação, e tornou-se membro da Real Academia de Ciências Naturais. Como pedagogo, o jovem Rivail dedicou-se à luta para uma maior democratização do ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia e outros. Nesse período, preocupado com a didática, criou um engenhoso método de ensinar a contar e um quadro mnemônico da História de França, visando facilitar ao estudante memorizar as datas dos acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país. As materias que lecionou como pedagogo são: Química, Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia, Retórica, Anatomia Comparada e Francês.
O pseudônimo "Allan Kardec", segundo biografias, foi adotado pelo Prof. Rivail a fim de diferenciar a Codificação Espírita dos seus trabalhos pedagógicos anteriores. Segundo algumas fontes, o pseudônimo foi escolhido pois um espírito revelou-lhe que haviam vivido juntos entre os druidas, na Gália, e que então o Codificador se chamava "Allan Kardec".
As cinco obras fundamentais que versam sobre o Espiritismo, sob o pseudônimo Allan Kardec, são: O Livro dos Espíritos, Princípios da Doutrina Espírita, publicado em 18 de abril de 1857; O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, em janeiro de 1861; O Evangelho segundo o Espiritismo, em abril de 1864; O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, em agosto de 1865; A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, em janeiro de 1868.
Além delas, como Kardec, publicou mais cinco obras complementares: Revista Espírita (periódico de estudos psicológicos), publicada mensalmente de 1 de janeiro de 1858 a 1869; O que é o Espiritismo (resumo sob a forma de perguntas e respostas), em 1859; Instrução prática sobre as manifestações espíritas (substituída pelo Livro dos Médiuns; publicada no Brasil pela editora O Pensamento); O Espiritismo em sua expressão mais simples, em 1862; Viagem Espírita de 1862 (publicada no Brasil pela editora O Clarim). E após o seu falecimento, viria à luz: Obras Póstumas, em 1890.
No 4º Congresso Mundial em Paris (2004), o médium brasileiro Divaldo Pereira Franco psicografou uma mensagem atribuída ao espírito de León Denis em francês (invertida) declarando que Allan Kardec fora a reencarnação de Jan Hus, um reformador religioso do século XV. Esta informação já foi dada em diversas fontes diferentes, o que está de acordo com o Controle Universal do Ensino dos Espíritos, que Kardec definiu da seguinte forma: "uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos - a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares."
Allan Kardec entregou ao mundo uma das maiores doutrinas já vistas, o ESPIRITISMO. A palavra espiritismo, um neologismo criado por Kardec, designa a doutrina que estuda a natureza, a orígem e o destino dos espíritos, bem como suas relações com o mundo corporal. Calcada em três pilares básicos (ciência, filosofia e religião), tem como bases as seguintes acertivas: a existência de Deus, definido com a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas; a existência do espírito; a reencarnação; a lei de causa e efeito; a lei da evolução e a pluralidade dos mundos habitados. Em sua vertente religiosa, o espiritismo tem Jesus Cristo como o paradigma, exemplo vivo da verdadeira conduta humana, que resumiu todas as leis e profetas em duas leis básicas, porém, definitivas: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo! De fato, quem se enquadra nestes dois axiomas, jamais incorrerá em quisquer erros desabonadores da moral cristã.
Considerado como a terceira revelação (as leis Mosaicas e o cristianismo são as outras duas), o espiritismo veio trazer luz sobre várias questões controversas da dogmática religiosa, principalmente no tocante à compreensão da justiça divina, aplicando princípios científicos para corroborar suas acertivas. Institui a imortalidade da alma, criada por Deus simples e ignorante, além de definí-la como um ser em dinâmico e constante processo evolutivo. Orgulha-se de ser a dutrina religiosa que não deixa questionamentos sem resposta, não institui dogmas, e sim, esclarece verdades irrefutáveis. Tem como lema principal a frase “Fora da caridade não há salvação”, porém esclarece que a salvação, longe de ser a condução a um pseudo paraíso, nada mais é do que a evoluçãso da alma através do trabalho em prol de quem necessita, o que nos aproxima de Deus.
No Brasil, país alcunhado de o coração do mundo, pátria do evangelho, o espiritismo tem se desenvolvido muito e aumentado o número de adeptos, principalmente após o lançamento de filmes a cerca da doutrina dos espíritos, bem como, da grande exposição midiática dos últimos anos, graças a grandes médiuns como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco.
A grande busca da humanidade é por respostas, porém, estas são difíceis de se obter, principalmente por conta de condições dogmáticas impostas aos seguidores das diversas religiões. Em que pese o grande respeito que o espititismo nutre por todas as religiões, é inegável que a maioria delas deixa a desejas no quesito esclarecimento. No espiritismo todas as obras basilares e as complementares estão à disposição e ao alcance de todos. Não há sonegação de informação ou mesmo deturpação interpretativa de qualquer texto. É a doutrina da transparência e do esclarecimento pleno, lá, qualquer um de nós tem acesso ao conhecimento total das verdades eternas e imutáveis, pois, considera-se preponderante seguir-se aos ensinamentos do mestre Jesus, e um deles é “não por a luz embaixo do alqueire e sim no alto para que possa iluminar a todos”.
Muita paz, e que o senhor Jeus nos abençoe!