terça-feira, 10 de abril de 2012

JUIZO FINAL

Benedito Godoy Paiva

Sentado o Padre eterno em trono refulgente,
Olhar severo envia a toda aquela gente!

Enquanto uns anjos cantam, outros vão levando
Ante a figura austera desse Venerando
As almas que da tumba emigram assustadas,
Vendo o tribunal solene, majestoso,
Em que vão ser julgadas.

Dois grupos são formados,
Um de cada lado:
O da direita, Céu; o da esquerda, Averno.
E Satanás, ao canto, o chifre fumegante,
Espera impaciente, impávido, arrogante,
A “turma” para o inferno.

Aconchegando o filho, a alma bem-amada,
E que na terra fora algo desassisada,
Uma mulher se chega e a sua prece faz,
Rogando ao Padre Eterno:
Poupe do inferno o pobre rapaz.

Cofia o Padre Eterno a longa barba branca
E o óculo ajustando à ponta do nariz,
O olhar dirige então à pobre desgraçada
E compassado diz:

- Os anjos vão levar-te agora ao Paraíso
E dar-te a recompensa, o teu descanso eterno.
Ali desfrutarás felicidades mil,
Porém, teu filho mau irá para o inferno.

Um anjo toma o moço e o leva a Satanás,
Porém a pobre mãe ao ver partir o filho,
Aflita, corre atrás!

E ao incorporar-se ela às hostes infernais,
Eis grita o Padre Eterno em tom assustador:
- Mulher para onde vais?

E o que passou-se, então,
Ninguém esquece mais:

- Eu vou para o inferno, ao lado do meu filho,
A repartir comigo a sua desventura!
As lágrimas de mãe, as gotas do meu pranto,
Acalmarão no Averno a sua queimadura!


Eu deixo para ti esse teu céu,
Essa mansão celeste onde o amor é surdo!
Onde se goza a vida a contemplar tormento,
Onde a palavra amor represa um absurdo!

Entregar esse teu Céu às mães malvadas, vis,
Que os filhos já mataram para os não criar,
Pois só essas megeras poderão, no Céu,
Ouvir gritar seus filhos sem consternar!

Desprezo esse teu Céu! O meu amor é grande,
Imenso, assaz, sublime. E posso te afirmar,
Que se o não te comove o pranto lá do inferno,
E os que no Averno estão são todos filhos teus,
O meu amor excede o próprio amor de Deus!

E ante o estupefato olhar do Padre Eterno,
a Mãe beijou o filho, e foi para o inferno.

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